quinta-feira, 12 de abril de 2012

Da luz que os meus olhos vêem


Só agora percebi o fado do Carlos do Carmo. A luz pura que emana de Lisboa, o tal ponto luz a que alguém bordou esta cidade.
Do outro lado do Tejo, por ruelas esconsas e pelo meio de trânsito meio regulado meio por regular, correu-se até à beira do rio. E do Cacilheiro Lisboa emerge como o cenário que enquadra perfeito a luz da tarde que me sorri. Como no Tejo se bordam lençóis.
Metros e automóveis à parte, completamente alheia à confusão, é do terreiro do Paço até Cacilhas que vou sendo feliz, que o sol quente da tarde me aquece o coração. A tarde é rematada já do outro lado do rio num cenário bucólico de aventuras de crianças, coroada pelo som do Tejo que nos acompanha o passeio e pelo ouro que emana do Cristo-Rei avistado ao cimo de um caminho que jamais esquecerei.
E é hora de retornar a casa e agradecer a noite que se transformou em dia e se tornou na luz pura que os meus olhos vêm todas as manhãs, que me alegra o dia à medida que passa.

domingo, 1 de abril de 2012

Domingo de Ramos. Ou da paixão do Senhor.

Hoje é domingo de Ramos.
As leituras de hoje propostas pela Igreja fazem-me reflectir sobre aquilo que são os nossos dias. O Cristo condenado à morte continua hoje a ser levado ao cadafalso bem mais perto de nós do que imaginamos.
"Hossana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor!". E foi aclamado por entre palmas e capas estendidas no chão enquanto entrava em Jerusalém.
Alguns dias depois são as mesmas vozes que perante Pilatos gritam: "À morte! À morte! Crucifica-o!".
É fácil para nós pensar: realmente, que hipocrisia. Como tiveram coragem de ser assim? De mandar crucificar quem tinha sido tão bom para eles?
Agora a parte difícil é pensar se nós não faremos o mesmo todos os dias.
Quando mudamos de ideias consoante o que mais nos convém. Quando viramos a cara a quem de nós necessita, seja de uma companhia, de uma palavra, ou de qualquer outro tipo de apoio. Quando nos é difícil desinstalar e abdicar do conforto monetário e social para descer à valeta e ajudar a erguer os párias da nossa sociedade.
Todos os dias pedimos a Pilatos que mande alguém para a cruz sem nada fazermos.
Está na altura de ser como o bom ladrão. Olhar para o lado e reconhecer as nossas fragilidades.
E mudar.
E ser o domingo de Páscoa todos os dias ao estender a mão a quem carrega todos os dias a sua cruz. Porque a minha fica mais leve quando te ajudo a carregar a tua.